Entrevista com Jason Rodd

29-09-2015

 

Jason Rodd, o nome por trás da JR Surfboards, está em Portugal para uma semana de trabalho intenso sob o teto da Xhapeland. Aos 41 anos, o australiano é um dos shapers mais procurados da Gold Coast, somando mais de 20 anos de entrega ao ato de produzir pranchas. E quando dizemos entrega, é mesmo isso que queremos dizer: é conhecido pela atenção extrema ao detalhe, pela disponibilidade e zelo com que recebe os seus clientes e por manter uma “biblioteca” de pranchas na sua fábrica, onde guarda dezenas de exemplares por ele shapados ao longo dos anos. Quantos shapers com 20 anos de carreira ainda guardam a quinta prancha que fizeram, ou aquele exemplar específico com que um dos seus team riders (neste caso, Josh Kerr) venceu determinado campeonato?

Hoje, é com orgulho que vê a sua marca tornar-se cada vez mais global — sedeada na Gold Coast, a JR Surfboards está também representada na Europa (através da Xhapeland), Brasil, Indonésia e Japão —, excedendo uma produção de 2500 pranchas por ano. A partir de hoje e até terça-feira, Rodd vai estar disponível para te receber em Cascais. Fica a conhecê-lo um pouco melhor nesta entrevista e faz já a tua encomenda!

 

Começaste a dedicar-te a sério ao shape a partir dos teus 20 anos. Quem eram os teus mentores na altura?

Comecei a shapar a olhar para as pranchas da DHD e do Maurice Cole. Esteticamente, gostava de olhar para as pranchas deles, sentir os rockers e os concaves que eles faziam na altura. Foi há muito tempo, eu tinha 20 anos, e muita coisa mudou desde então, mas sem dúvida eles foram uma influência. Comecei por aí e fui adaptando o meu próprio estilo, que tem evoluído continuamente. Mesmo as pranchas que fiz há quatro ou cinco anos são diferentes das de agora. Elas estão sempre a evoluir.

 

Algumas dessas pranchas fazem parte de uma espécie de biblioteca que tens na tua fábrica, onde guardas vários exemplares shapados por ti desde há anos. Por que é tão importante para ti manter um registo físico do teu trabalho?

Sim, guardo muitas pranchas. Na nossa fábrica temos uma espécie de sótão onde guardo todas as minhas pranchas antigas. Penso que ainda tenho a quinta ou sexta prancha que shapei. Tenho muitas single-fins, muita coisa retro com que costumava “brincar” e que resolvi guardar. Também tenho pranchas que foram feitas especificamente para o meu team. Fiz muitas pranchas para o Josh Kerr há cerca de cinco anos, e consegui recuperar e guardar as pranchas com que ele ganhou campeonatos. Há cinco ou seis pranchas que talvez tenham mais de 15 anos, mas foi sobretudo nos últimos 10 que comecei a guardá-las. Assim, consigo ver a evolução do meu shape. Posso sempre recuar no tempo e ver o que fiz numa determinada prancha, agarrar nela, olhar para os rails, para o concave, medir a colocação das quilhas, em vez de simplesmente estar a olhar para anotações num papel ou ficheiro de computador. Hoje em dia temos o software [NR: AKU Shaper] que possibilita uma nova forma de arquivamento. Cada prancha que faço está numerada e guardada [em forma de ficheiro] numa pasta específica daquele ano, mês e data. No caso de haver uma prancha que um dos meus team riders considera mágica, eu tenho o ficheiro no computador e a prancha na “biblioteca”. Posso combinar os dois e replicá-la da melhor forma.

 

Tu shapas todo o tipo de pranchas, desde modelos de alta performance a guns, passando por pranchas para surfistas de nível médio. Que modelos mais prazer te dá shapar?

Quando estou a shapar para mim mesmo, adoro shapar modelos de alta performance para mar pequeno. Adoro surfar com esse tipo de pranchas. De onde venho há bastante swell mas também há muitos dias de ondas pequenas e muitos points onde podes surfar com uma prancha muito pequena e fazê-la funcionar como uma prancha de performance. Mas o que me dá realmente mais prazer é fazer uma prancha para um dos meus team riders e depois vê-lo ganhar um campeonato. Sabes que fizeste bem o teu trabalho quando consegues dar-lhe um produto desses.

 

És conhecido por manter uma relação próxima com os teus clientes. Nesta era da massificação, a proximidade ainda é uma vantagem?

Quanto maior se torna a minha empresa, obviamente mais difícil se torna ter uma relação de um-para-um como toda a gente, mas continuo a achar muito importante estar com o cliente e dar-lhe feedback pessoalmente. Hoje em dia, há muitas pessoas a comprar pranchas genéricas mas uma boa parte dos meus clientes querem estar conectados a mim e saber o que vão ter de mim. Esse é o meu mercado e é assim que baseamos o nosso negócio. Funciona muito bem assim.

 

Quantas pranchas estás a shapar por ano?

Na Austrália, fazemos cerca de 40 a 50 pranchas por semana, o que dá cerca de 2500 por ano. Na Europa, neste momento, estamos a fazer cerca de 300, o que é um número bastante bom tendo em conta que é o meu primeiro ano aqui. E depois também temos o Brasil e o Japão. A pouco e pouco estamos a tornar-nos globais e os números estão a crescer.

 

Quer isso dizer que passas várias temporadas em cada um desses países a shapar para os surfistas locais?

Não, no Brasil não shapo. As pranchas estão sob licença. É um calendário apertado para tentar ir a todo o lado e shapar pessoalmente pranchas para toda a gente. Mas sempre que posso, tento fazê-lo. É o nosso modelo de negócio e os nossos clientes gostam disso.

 

Sendo tu originário da Gold Coast, em que medida dirias que o teu conhecimento e experiência enquanto surfista e shaper tornam-te apto para shapar pranchas para os surfistas portugueses?

A Gold Coast é conhecida pelos pointbreaks, por isso em certa medida é parecida com Portugal. As ondas aqui parecem vir de águas mais profundas, são um pouco mais grossas do que na Gold Coast, mas quando desces a costa até Bells Beach ou Victoria, no sul da Austrália, começas a encontrar ondas mais parecidas com as de Portugal. A costa australiana é bastante parecida com a portuguesa e até com a francesa. É fácil adaptar os modelos e o estilo de shape entre os dois países.

 

Para terminar, e tendo em conta a diversidade da nossa costa, que modelos destacarias para o público português e para que tipo de condições recomendarias cada um desses modelos?

Vou começar pelo Cousin It, o meu modelo mais pequeno, uma prancha de performance com que podes surfar ondas de 2 a 4 pés. É uma semi-fish de performance, uma boa prancha all-round para ondas pequenas. Uma prancha genérica para beachbreak, com um rocker um pouco mais flat. É um dos modelos que mais temos vendido aqui.

Para um step-up à Cousin It, temos a The Donny, o modelo de assinatura do Dion Atkinson. É uma prancha user friendly até para surfistas medianos, porque o Dion é um tipo grande e a prancha tem um pouco mais de volume. É uma prancha de alta performance, obviamente, porque é baseada no surf do Dion, mas em geral é uma prancha muito boa para ondas de point, um pouco mais ocas. É uma prancha all-round para surf de performance.

Por último, destaco a King Pin. É quase como um step-up da Donny. Aguenta um pouco mais de tamanho por causa do round pin tail. É bastante parecida com a Donny em todos os aspetos, mas tem um pouco mais de volume no nose, o que facilita a remada. Quando está grande tens mais foam sob o peito para remares para as ondas. O tail é estreito, por isso agarra bem no bottom. A prancha funciona muito bem em ondas maiores.

 

Sabes mais sobre o Jason Rodd e o seu trabalho aqui.

       

 
 
 
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